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sábado, 22 de dezembro de 2007

BEZERRA NETO
Jornalista e escritor
E-mail:
bzneto@gmail.com

O Circo

Semana de 27/10 a 03/11/2007
A alegria da garotada era sem dúvida o Circo, seus malabaristas, palhaços e o picadeiro, onde aconteciam as principais cenas do show circense – as piadas, os malabares, os saltos ornamentais, o equilíbrio em cordas, em rodas, em cubos; trapézios, as danças de fitas; cavalos amestrados se exibindo, ao dorso lindas artistas de pernas “torneadas”, que enchiam de enlevos as cabeças de pequenos e grandes numa ânsia só; só vendo para crer os olhares pecadores dos meninos prestes à primeira comunhão, as lambidas dos lábios de algodão doce, flocos de pipocas como se fossem tetas arrancadas debaixo de lindos corpetes de lingeries, acesos, que despertavam à imaginação, à volúpia. Às vezes eram de lycra preta, com detalhes em tule bordado, sem alças que impedissem o “desnudo” de certos olhares. Ah, circos daquela infância! – Nerino, Garcia, Trindade, Orlando Orfei – e tantos outros. Todos passavam em minha cidade e eu os guardo ainda na memória, principalmente o Nerino, o mais esperado dos meus dias. A lembrança do palhaço Picolino me vem sempre. Vejo-o dentro de sua casaca grande e preta, colarinho grande, calça com suspensório, chapéu coco e sapatos longos. Toda a meninada o conhecia pelo nome, brincava com ele e o amava. Um cativante conquistador de platéias, era o Picolino!... Essas lembranças me vêm por nada; estão elas na cabeça e no andar de longos anos; dias espiados através da janela do trem de ida e de volta, de vez enquanto uma parada na próxima estação, uma descida rápida e um pouco de descanso, só para refazer a coragem de voltar a ser menino e ajudar a pensar ainda que continuo um admirador de circo.
Ele chegava e ia logo montando a sua grande lona. Era um passatempo bom, depois da escola. Permanecia ali horas e horas vendo os operários levantar os mastros, na montagem de tudo, o picadeiro, os camarotes, o “poleiro” e as grandes gaiolas dos animais. Ligava-me nisso... Uma vez fui puxado pelo braço quando acompanhava o palhaço “catita” montado de costas na garupa de um jumento, anunciando a atração da noite. Era meu pai, que quase me bateu pelo atrevimento. O palhaço ia à frente e a garotada atrás, respondendo aos seus apelos propagandistas: “ô, zabelê cantô no mato!...” E os meninos respondiam a uma só voz: “tôco cru pegando fogo/ ô, zabelê cantô no mato.../ tôco cru pegando fogo/... E assim ia a caravana pelas ruas. No final, cada um dos meninos dava ao palhaço o braço, para ser carimbado. Isso valia uma entrada.

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