.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

BEZERRA NETO
Jornalista e escritor
E-mail:
bzneto@gmail.com




O caga-sebo

Semana de 05/01 a 12/01/2008

A tempestade que se debateu sobre aquela parte do agreste entremeado com regiões do sertão, no mês de janeiro, com trovoadas intensas e chuvas fortes, foi assustador. Nunca se viu tanto aguaceiro; parecia que o mundo ia se acabar. As árvores eram arrancadas pela raiz, virando-a para cima; coriscava raios em profusão em meio a relâmpagos e trovões. Casebres se desmanchavam e seus escombros desciam na enxurrada, a madeira já velha e sem força para resistir. Descia tudo na enxurrada, os “cacos” de dentro das casas caídas, nada ficando inteiro ou sobrando para serventia. Morria o gado; morria toda criação de bodes, tudo corria desgovernado para a correnteza. Não ficou cerca, casa de farinha, plantações de mandioca, feijão e legumes, tudo era arrancado pela força da água, que não parava de descer do céu.
Animais e até mesmo algumas pessoas morriam, ou fulminados pelos raios, ou pela situação de flagelo. Muitas foram levadas pela grande enxurrada, meninos de colo e até gente grande. Um clamor, bem disseram aqueles que sobreviveram a toda essa agonia. Nessa tormenta, quem mais sofreu foi o pequeníssimo caga-sebo, um pássaro do tamanho de nada que vivia de comer pequenos insetos e frutos do umbuzeiro. Estava ele lá, despreocupado, quando o vento das primeiras chuvas o arrastou pelos ares em meio às folhas do pé de umbu. Voaram para longe, lá para o meio do capinzal que, por sorte, havia ali um velho e abandonado ninho de cancão, dependurado no galho de uma árvore seca. Nessa disparada em meio a galhos e garranchos o pobrezinho chegou ao ninho peladinho da silva, e se arranchou por ali mesmo. Agüentou um frio de três dias.Ao raiar do terceiro dia, a chuva amainou e parecia que as coisas iam se acalmar. Era hora de se verificar o que havia sobrado. Estavam uma clareiras de terra revirada, crateras e poças de lama. Ele levanta-se e se espreguiça na embocadura do ninho, tentando refazer-se do seu infortúnio. Para ele tinha sido um dilúvio. Procura enxergar uma saída para sua situação e não a encontra. Está assim, lamentando a sorte, quando um gavião faminto o espreita do alto, de um galho acima de onde estava, naquela árvore seca. Pretendia o gavião fisgar aquele petisco, quando apareceu um caçador observava toda a cena. Ao baixar vôo para captura do desditoso caga-sebo, o caçador dá-lhe um tiro certeiro e ele cai: peeeeiiiii. Aí, o que ia ser engolido, esbraveja revoltado com o homem da espingarda: - precisava tanta violência; tirar a vida de um ave tão bonita e indefesa?

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home