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sábado, 22 de dezembro de 2007

BEZERRA NETO
Jornalista e escritor
E-mail:
bzneto@gmail.com

O Porco

Semana de 13 a 20/10/2007
Um causo: era noite de “Santa Missão” em Arapiraca, para onde acorreram multidões vindas de todos os arredores e das cidades circunvizinhas, como Limoeiro de Anadia, Marimbondo, Belém, Palmeira dos Índios, Igaci, Santana do Ipanema, Dois Riachos, entre outras. O pátio que ficava atrás da Igreja Matriz, estava superlotado, milhares de pessoas se espalhando pela hoje Praça Marques da Silva, passando pelo cemitério velho (onde hoje é construída a Igreja Concatedral Nossa Senhora do Bom Conselho, no Largo Dom Fernandes Gomes – Centro na Rua 30 de Outubro e adjacências. Não havia mais onde coubesse um pé de pessoa. Frei Damião pregava aos fiéis, expulsava demônios, condenava os amancebados e pedia aos céus que mandasse chover em cima das plantações.
O plantio de fumo e de outras lavouras necessitavam de chuva porque a terra estava num secume de dá pena... Todos oravam com o “santo do Nordeste” pedindo para a seca se retirar; pediam e pediam, numa lamúria só... Minhas primas Maura, Marinete, Zezé e Neninha estavam atrasadas e, por conseguinte, eu também, que devia acompanhá-las à Santa Missão. Todos nós já estávamos prontos, sentados enquanto aguardava Zezé – a mais vaidosa da turma – se trocar, botar pó de arroz coração e ruge no rosto, avivando as sobrancelhas com lápis molhado na ponta na língua... Enquanto isso, no quintal da casa, meus primos Miguel, Adalberto e Deló ajudavam tio José a pelar um porco, jogando sobre ele água fervente. Este fora abatido e colocado em um bando de tiras, para ser pelado.
Já haviam feito a pelação um lado, da cabeça aos pés, ele lá esticado e mortinho da silva. Para virar o porco, para que pelassem a outra banda, Deló e Miguel pegaram na parte da frente, enquanto tio José e Adalberto seguraram o animal pelos pés traseiros. Mas, ao tentarem virar o “barrão” - que pesava mais de 100 quilos – todos foram surpreendidos com o despertar do animal. De supetão, ele pôs-se a correr desembestado porta afora, causando o espanto de todos. Corria em debandada ao aglomerado de gente, gritando e rodopiando. Maura, com seu elegante vestido, não contou conversa: saiu no encalço do danado, pega aqui, pega acolá, em meio às risadas e gargalhadas da turba que se desarrumava à passagem dos dois valentes. Maura não se incomodou de estar pagando aquele mico, só queria recuperar o suíno, trazendo-o de volta ao “matadouro”. E foi derrubá-lo já próximo ao palanque, onde estava Frei Damião rodeado de pessoas ilustres da cidade. Ela escanchou-se no bicho, prendeu-o pelas orelhas e esperou os irmãos chegar para levá-lo amarrado. Não precisa dizer que a “Missão” ali acabou!

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